A médica psiquiatra e escritora Mariana Andrade lança nesta sexta-feira, 11 de julho, às 16h, no Museu João Fona, em Santarém (PA), seu primeiro livro: A Filha que o Rio Guardou. Com linguagem poética e simbólica, a obra mistura elementos de erotismo, horror e espiritualidade numa narrativa que pulsa com a força da floresta, do corpo e das memórias ancestrais.
A protagonista Akashany é fruto de vivências profundas: nasceu das histórias ouvidas pela autora desde a infância ribeirinha, da observação sensível da alma humana no consultório e da inquietação de quem carrega silêncios que precisam ser ditos. “Ela é minha parte mais antiga, mais selvagem, mais intuitiva. Não é só uma personagem é uma força que me atravessou e me obrigou a escrever. Ela nasceu como um sussurro do rio, e virou tempestade”, conta Mariana, que cresceu em Santarém ouvindo os causos do avô Cézar Sarmento, leitor voraz e amante das histórias amazônicas e os poemas do pai, João Luiz Sarmento.
Com uma escrita visceral, a escritora transforma o corpo em território de memória e o desejo em linguagem. O processo criativo foi, segundo a autora, mais ritual do que racional. “Eu escrevia como quem prepara uma oferenda. Cada capítulo veio como um batismo. Não escrevi só com a cabeça, escrevi com o ventre, com o corpo inteiro. Era como se eu estivesse sendo guiada por algo maior do que eu.”
Formada em medicina, com especialização em psiquiatria, Mariana vê na escrita uma continuidade do seu trabalho com a escuta. Em A Filha que o Rio Guardou, o erotismo não é tabu é cura. A figura da Matinta ganha destaque como símbolo da sabedoria rejeitada, da velha que assobia e que ninguém escuta. O livro propõe não apenas uma leitura, mas uma experiência sensorial. É, segundo a autora, um rito de lembrança da cultura, das raízes, das histórias que resistem mesmo quando esquecidas.
Por: Dannie Oliveira
Fonte: Portal Santarém