Por muito tempo, falar de favela significava associar o tema apenas à carência e aos problemas sociais. Hoje, essa narrativa vem sendo transformada por quem vive nesses territórios, mostrando que ali também existem inovação, cultura e empreendedorismo. É justamente essa mudança de perspectiva que o escritor Gê Coelho explora no livro Favelismo. A obra questiona estigmas e propõe um olhar diferente: em vez de enxergar apenas vulnerabilidade, reconhecer as potências que surgem nas periferias.
Para o escritor, a vivência nas favelas foi determinante para sua trajetória acadêmica e para construir essa nova perspectiva sobre esses territórios. Ele explica que, historicamente, os estudos abordam a favela de forma negativa: “Apresento uma narrativa onde a favela deixa de ser marginal e passa a ser o centro de produção de conhecimento, econômico e cultural do país”, afirma.
Segundo ele, a literatura é uma ferramenta poderosa para desconstruir a ideia de que favelas são apenas violentas ou ligadas ao tráfico. “Precisamos de pessoas que tenham conhecimento teórico e vivência na favela, para que a narrativa não venha carregada de racismo ou preconceito, mas do reconhecimento do ser favelado”, completa.
Essa discussão ganha força no contexto da Expo Favela Innovation Pará 2025, que será realizada nos dias 25 e 26 de outubro de 2025 em Santarém, no oeste do Pará. Pela primeira vez fora de uma capital brasileira, o evento reunirá 100 projetos selecionados, apresentando ideias criativas e soluções nascidas dentro das comunidades. A iniciativa busca valorizar o potencial empreendedor das periferias e abrir caminhos para projetos capazes de transformar vidas e alcançar projeção nacional.
Para Daniel Noel, produtor executivo da Expo Favela, o evento também tem a missão de combater estereótipos. “Favela é potência, resiliência, criatividade, empreendedorismo e organização social. Queremos mostrar isso para todo o Brasil”, afirma.
As favelas brasileiras movimentam cerca de R$ 300 bilhões por ano em renda própria, segundo pesquisa do Instituto Data Favela em parceria com a CUFA e a Favela Holding. São 12,3 mil comunidades, com 6,6 milhões de residências que abrigam pelo menos 17 milhões de pessoas, o equivalente à população de toda a Região Norte.
No Pará, mais da metade da população vive em áreas periféricas que movimentam milhões de reais. Na região oeste do estado, com Santarém como polo, cerca de 1,5 milhão de pessoas vivem em favelas, comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas, impulsionando a economia por meio da pesca artesanal, extrativismo de açaí e castanha, agricultura familiar, turismo comunitário e comércio popular, além de preservar tradições e práticas sustentáveis da Amazônia.
O movimento da Central Única das Favelas (CUFA) reforça a ideia de que a favela deve ser contada por quem vive e produz nela. Marcus Athayde, presidente global da organização, explica que o objetivo é transformar a palavra “favela”, carregada de estigmas, em símbolo de potência: “Queremos que este nome represente resiliência, que seja aquilo que aquelas pessoas de bem, que vivem, que trabalham, que estudam, possam contar e ouvir, sem medo e sem preconceito.” – finaliza.
Por: Assessoria de Imprensa
Fonte: Portal Santarém