A economia da madeira nativa na Amazônia Legal manteve estabilidade em 2024, mas reforçou um diagnóstico que há anos define o setor: a dependência estrutural do Pará. Segundo o Anuário Timberflow, divulgado pelo Instituto de Manejo e Certificação Agrícola e Florestal (Imaflora), o estado respondeu por quase 40% de toda a madeira em tora transacionada na região, com 2,6 milhões de metros cúbicos comercializados — o dobro do volume do Mato Grosso.
Os dados mostram que Portel (483 mil m³) e Prainha (309 mil m³), ambos municípios do oeste do Pará, são hoje os principais polos logísticos da madeira legal brasileira. Essa concentração ajuda a projetar o desafio da fiscalização e da rastreabilidade num território ainda marcado pela informalidade.
“O levantamento mostra um número maior de negócios com madeira da região. Identificar esses polos é fundamental para orientar o planejamento de infraestrutura e a alocação de fiscalização”, explica o diretor de Florestas e Restauração do Imaflora, Leonardo Sobral.
Estados
A Amazônia Legal movimentou 6,57 milhões de metros cúbicos de madeira em tora em 2024, uma leve queda de 0,32% em relação ao ano anterior. Mesmo assim, Pará, Mato Grosso e Rondônia continuam concentrando quase 80% do total.
Amapá e Acre também chamam atenção pelos aumentos expressivos na produção — 62,8% e 63,8%, respectivamente —, o que pode indicar expansão de concessões florestais ou maior intensidade de manejo em novas áreas.
Dependência
Um dos gargalos identificados pelo relatório é a concentração de demanda em apenas quatro espécies: maçaranduba, angelim, cupiúba e cumaru, responsáveis por cerca de 25% do volume total de madeira em tora.
“A transação ainda está muito concentrada nessas espécies, o que mostra a necessidade de investir em diversificação e novos produtos. Isso abre espaço para agregar valor e reduzir a pressão sobre determinadas árvores”, ressalta Sobral.
A dependência de poucas espécies limita o avanço do manejo florestal sustentável, que pressupõe a exploração equilibrada de uma variedade maior de árvores — condição essencial para evitar o colapso de cadeias locais.

Segundo observadores, a dependência de poucas espécies diminui o avanço do manejo florestal sustentável na Amazônia — Foto: Arquivo Imaflora
Exportações
A madeira serrada continua sendo o principal produto manufaturado da região. São Paulo permanece como o maior destino interno, absorvendo 352 mil metros cúbicos, enquanto as exportações da Amazônia Legal somaram 203 mil metros cúbicos — com os Estados Unidos como principal comprador.
O Pará também domina as Concessões Florestais Federais (CFFs), modelo de manejo mais fiscalizado do país. O estado responde por 79% do volume nacional (300 mil m³), com destaque para as Flonas de Altamira e Caxiuanã. Já as concessões de Saracá-Taquera e Crepori apresentaram queda.
“Compreender as dinâmicas de transação ajuda a reduzir pressões sobre a floresta e incentiva a modernização da indústria madeireira, com mais eficiência, agregação de valor e geração de renda”, afirma o coordenador de Florestas e Restauração do Imaflora, Felipe Pires.
Transação madeireira – Amazônia Legal (2024)
Total (madeira em tora) na Amazônia Legal 2024: 6.571,030,88 m³.
Ranking (madeira em tora) por Estado:
Pará – 2.629.560,51 m³ (40,02%);
Mato Grosso – 1.624.147 m³ (24,72%);
Rondônia – 857.391 m³ (13,05%);
Amazonas – 500.218 m³ (7,61%);
Amapá – 368.315 m³ (5,61%);
Acre – 309.368 m³ (4,71%);
Roraima – 282.031 m³ (4,29%).
Ranking (madeira em tora) por município:
Portel (PA) – 483.776,01 m³;
Prainha (PA) – 309.107,15 m³;
Colniza (MT) – 244.300,35 m³;
Mazagão (AP) – 227.221,57 m³.
Por Nilson Cortinhas, Um Só Planeta — Belém
Fonte: Portal Santarém
