A Cooperativa Mista dos Povos e Populações Tradicionais da Calha Norte (Coopaflora), com o apoio do Programa Florestas de Valor do Imaflora, realizou a primeira edição do seminário “Coopaflora em Movimento: Interação e engajamento de cooperados e não cooperados em sua área de abrangência”. O evento, que tinha como foco primordial o diálogo, a formação e a reflexão sobre o cooperativismo, superou as expectativas de público e gerou resultados práticos que fortalecem a organização internamente e ampliam seu impacto nas comunidades quilombolas de Oriximiná.
“Este seminário nasceu de uma autoavaliação da própria cooperativa, que sentiu a necessidade de ir aos territórios, dialogar com seus membros e não membros, apresentar as ações desenvolvidas e engajar mais o seu público. Foi extremamente importante, pois os participantes e as comunidades tiveram a oportunidade de aprofundar seu entendimento sobre o cooperativismo, conhecer as iniciativas da Coopaflora e, de fato, se envolver mais ativamente em seus temas e assuntos”, destacou Maria Farias, coordenadora de Projetos e Serviços do Imaflora no Norte do Pará.
O evento foi estruturado com metodologias participativas, incluindo dinâmicas de grupo e momentos de escuta ativa sobre os desafios e as potencialidades dos territórios. A presença de 93 pessoas, com mais de 50% de mulheres e um número significativo de não cooperados, demonstrou o acerto da estratégia e o crescente interesse pelo trabalho da cooperativa.
Elaine Salgado, moradora do quilombo Boa Vista Cuminã e colaboradora da Usina de Beneficiamento de Alimentos (UBA), um projeto do Imaflora focado na produção consciente que respeita a cultura alimentar e mantém a floresta em pé, participou do Seminário e enfatizou a importância da representatividade feminina.
“Como mulher, quero levar o que é de melhor para as mulheres do nosso território, buscando a geração de renda para todas elas, mais conhecimento para transmitir e inseri-las em todos os movimentos de geração de renda que temos junto aos nossos parceiros.” Elaine Salgado.
Pertencimento e Protagonismo
O seminário reforçou o sentimento de pertencimento e o protagonismo comunitário e se destacou como um marco de fortalecimento interno, permitindo alinhar visões sobre comercialização, manejo e governança, além de reafirmar a importância da organização solidária. Para os não cooperados, abriu novas perspectivas sobre o potencial de se gerar renda por meio do cooperativismo, do reconhecimento e da valorização dos modos de vida tradicionais.
“Com certeza, este seminário vai fortalecer não só a mim, mas também essas pessoas e famílias que estão no território coletando produtos como castanha, cumaru, copaíba, açaí e outros que antes se perdiam na floresta. Com este seminário, as pessoas estão entendendo a importância e aprendendo de que forma podem se tornar sócias e participar”, declarou Ricardo Almeida, presidente da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Erepecuru (Acorqe).
Impacto e Próximos Passos
O sucesso do evento demonstrou que a organização coletiva é o caminho para o acesso a mercados diferenciados, preços justos e políticas públicas. “Este é o momento de mostrar o papel da cooperativa para o território, de envolver mais cooperados quilombolas e, junto aos nossos parceiros Imaflora, Floresta de Valores, trazer esse engajamento e mostrar que a cooperativa trabalha a economia diretamente com produtos que vêm da floresta. Isso é muito importante para todos nós, sejam quilombolas, indígenas ou assentados que fazem parte da cooperativa”, frisou Daiana Silva, presidente da Coopaflora.
O Seminário “Coopaflora em Movimento” é a demonstração prática da pauta central da COP30: o reconhecimento e o empoderamento dos povos guardiões da floresta como pilares da conservação. Ao fortalecer sua governança e promover o diálogo sobre bioeconomia, rastreabilidade e assistência técnica, é possível aumentar a produtividade e estruturar a base socioeconômica para que as comunidades possam viver com dignidade em seus territórios, mantendo a floresta em pé.
“A mensagem central da COP30 é fortalecer os povos da floresta, promover a bioeconomia e construir um futuro sustentável para todos. Unimos esforços e cuidamos da natureza com responsabilidade e amor. Fortalecer essas bases é fortalecer a própria vida e o futuro do planeta”, concluiu Maria Farias.
Por: Martha Costa/Imaflora. Foto: Elinete Frazão/Imaflora
