Belém sediou um dia intenso de debates sobre a sustentabilidade e a bioeconomia amazônica na quinta-feira, 17 de julho. Parte da Semana do Clima da Amazônia, o Instituto Tecnológico Vale (ITV) foi palco dos eventos autogestionados que reuniram especialistas, empresas e representantes da sociedade civil para discutir desafios e soluções para a região. Além disso, o dia foi marcado por painéis de destaque do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e do Fundo Vale, que abordaram o financiamento e a escalabilidade de cadeias produtivas sustentáveis.
No painel “Financiamento da Bioeconomia: Impulsionando Cadeias Sustentáveis na Amazônia”, promovido pelo CEBDS, a discussão girou em torno de como atrair investimentos para negócios que valorizem a floresta em pé. O encontro, mediado por Alexandre Bezerra (CEBDS), contou com a participação de Márcia Soares (Fundo Vale), Thomás Sottili (Norte Energia) e Tainah Fagundes (Da Tribu e Assobio).
Em um dos quatro painéis realizados pelo Fundo Vale durante este terceiro dia de evento, o destaque foi para “Os Desafios e as Tecnologias para Escalar Sistemas Produtivos Sustentáveis”. Este debate essencial, mediado por Bia Marchiori (Fundo Vale), trouxe vozes como Thaís Kasecker (Instituto Belterra), Estevan Sartoreli (Dengo Chocolates), Orlando Nastri (Citrosuco) e Rodolpho Zahluth Bastos (Semas-PA), que exploraram como a inovação e a colaboração entre setores podem impulsionar práticas regenerativas e garantir a viabilidade econômica e social na Amazônia.
Setor privado aposta na bioeconomia para gerar renda e conservar a floresta
Já no painel “Financiamento da Bioeconomia: Impulsionando Cadeias Sustentáveis na Amazônia”, Alexandre Bezerra, consultor do CEBDS, composto por mais de 110 empresas, destacou que a bioeconomia tem se consolidado como uma das principais apostas do setor privado na Amazônia, com foco em cadeias produtivas sustentáveis, restauração florestal e conservação.
De acordo com o consultor, o Pará e o Amazonas lideram o recebimento de investimentos sociais privados na região, principalmente nas áreas de educação e combate à pobreza. Atualmente, mais de 60% das empresas associadas ao CEBDS operam na Amazônia Legal e, juntas, representam mais de 50% do PIB nacional. Essas ações já resultaram em mais de 1 milhão de empregos diretos, impulsionando o desenvolvimento econômico com responsabilidade socioambiental.
Thomás Sottili, gerente de Sustentabilidade da Norte Energia, destacou as ações socioambientais desenvolvidas no Médio Xingu, como parte das obrigações do licenciamento da Usina de Belo Monte e de iniciativas voluntárias da empresa. Um dos exemplos é a produção de chocolates indígenas, em parceria com cooperativas locais, que alia geração de renda, valorização cultural e identidade visual própria.
A empresa também apoia projetos de agricultura sustentável e restauração florestal por meio do fundo Floresta Viva, em colaboração com o BNDES e o Fundo Vale, com mais de R$ 26 milhões voltados à restauração florestal. Entre os principais instrumentos de apoio está o Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável, que já destinou cerca de R$ 500 milhões a projetos sociais. A Norte Energia também atua em qualificação profissional, empreendedorismo e monitoramento de impacto, com programas como o Belo Monte Empreende, que apoia negócios sustentáveis e mapeia resultados ao longo do tempo.
Tecnologias ambientais ganham escala em grandes e pequenos produtores
Durante o painel “Os Desafios e as Tecnologias para Escalar Sistemas Produtivos Sustentáveis”, diversas iniciativas do setor privado demonstraram como têm investido intensamente em tecnologias para enfrentar os impactos das mudanças climáticas e atender às crescentes exigências por sustentabilidade.
Thaís Kasecker, do Instituto Belterra, destacou que a formação técnica de qualidade é um dos principais desafios para a expansão da agricultura regenerativa e dos sistemas agroflorestais no Brasil. Ela defende que, além de inovação financeira e assistência continuada às famílias agricultoras, é preciso fortalecer a capacitação de quem vive a vulnerabilidade na ponta. “A restauração precisa ser pensada a partir do olhar de quem está no território”, afirmou. O Instituto atua com projetos-piloto no Amazonas, Piauí, Marajó e, até o fim do ano, também em Tomé-Açu.
Já Estevan Sartoreli, da Dengo Chocolates, defende que a maior oportunidade da cadeia do cacau é promover renda digna, sobretudo entre os pequenos produtores. Para ele, não há sustentabilidade possível sem enfrentar a raiz de problemas como o desmatamento: a falta de renda. A marca paga prêmios por qualidade e rastreabilidade, incentivando o cultivo agroflorestal e práticas regenerativas. Com a recente valorização do cacau no mercado internacional – que saltou de 2.500 para 12 mil dólares por tonelada em um ano –, Sartoreli acredita que há uma chance concreta de transformar o setor. Ele também aposta na comunicação para mudanças de comportamento e em uma nova forma de contabilidade que valorize os custos sociais e ambientais dos produtos.
O produtor rural Daniel Guimarães e idealizador do Projeto Agrosocioeconômico Ambiental Família Rural, defende que a agricultura familiar pode ser altamente produtiva, sustentável e rentável quando há investimentos adequados e diálogo direto com os produtores. Ele já cultiva milho, macaxeira, abóbora, arroz e cria galinha caipira e peixes, sem uso de insumos químicos, utilizando apenas resíduos orgânicos como fertilizante. Ele afirma que um hectare de piscicultura pode render até 30 mil peixes por ano, enquanto a criação de gado no mesmo espaço não oferece o mesmo retorno. Para ampliar esse modelo, Daniel aponta que são necessárias políticas públicas voltadas à compra de maquinário, infraestrutura de armazenamento e apoio técnico.
Trilha imersiva é sediada por Museu Goeldi até esta sexta (18)
Para quem busca uma imersão educativa e cheia de descobertas na Semana do Clima da Amazônia, o Museu Paraense Emílio Goeldi abre as portas até esta sexta-feira, 18 de julho, para a “Trilha BRC – Caminho da Biodiversidade”. Lançada no último dia 16, a iniciativa do Consórcio de Pesquisa em Biodiversidade Brasil – Noruega (BRC) distribuiu, em 13 estações, placas com QR Codes convidam a desvendar conteúdos digitais exclusivos, repletos de curiosidades, fatos científicos e as últimas pesquisas sobre a fascinante fauna e flora amazônica.
Após percorrer o trajeto e preencher uma avaliação na última estação, o visitante é convidado a retirar um brinde do BRC na biblioteca do parque, no núcleo de visitantes, como forma de agradecimento pela participação.
A trilha é uma realização do BRC, um consórcio estabelecido em 2013 que reúne a Universidade Federal do Pará (UFPA), a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), o MPEG, a Universidade de Oslo e a empresa Hydro, com o propósito de fomentar pesquisas ambientais colaborativas na Amazônia brasileira.
Semana do Clima encerra com show Fafá de Belém
A I Semana do Clima da Amazônia segue até o dia 18 de julho, com cerca de 30 eventos acontecendo em diferentes locais. A programação completa pode ser acessada pelo link: https://linktr.ee/semanadoclimadaamazonia
Semana do Clima da Amazônia – Linktree
17/7 – QUINTA Trilha – Caminhos da Biodiversidade 09h00 – Painel CEBDS – Semana do Clima da Amazônia: Financiamento da Bioeconomia: impulsionando Cadeias Sustentáveis na Amazônia 09h00 – O Papel das Florestas no Combate à Crise Climática 10h30 – Os desafios e as Tecnologias para Escalar Sistemas Produtivos Sustentáveis 14h00 – Economia da Floresta: O Papel das Reservas Extrativistas na … linktr.ee |
A programação terá um show de encerramento gratuito com a cantora Fafá de Belém, no Teatro Maria Sylvia Nunes – Complexo da Estação das Docas Boulevard Castilhos França, a partir das 19h.
Sobre a Semana do Clima da Amazônia
De 14 a 18 de julho, Belém sedia o centro das discussões sobre o clima na Amazônia com a realização da I Semana do Clima na Amazônia. O evento estratégico busca debater soluções estruturantes para o desenvolvimento sustentável da região, colocando a Amazônia no centro da agenda climática global e reforçando sua importância para o equilíbrio do planeta. A programação conta com uma série de painéis, palestras, eventos autogestionados e atividades culturais que envolvem lideranças empresariais, especialistas, ONG’s, representantes da sociedade civil e formuladores de políticas públicas.
Por: Assessoria de Imprensa
Fonte: Portal Santarém